sexta-feira, 9 de março de 2012

Sábado versus universidade: o que fazer?
Quando um jovem decide se matricular em uma instituição de ensino superior, ele tem que fazer decisões importantes. Quesitos como conceituação, localização, preço e ambiente sempre são avaliados. Mas quando ele é adventista, surge outra questão importante: haverá a possibilidade de guardar o sábado?
Uma das principais crenças da Igreja Adventista do Sétimo Dia é a guarda do sábado. Segundo a Bíblia, ela deve ocorrer desde o pôr do sol da sexta e se estende até o pôr do sol do sábado. Nesse período as praticantes da fé se concentram em realizar atividades que remetam a Deus e ao descanso da mente. Ou seja, todas as coisas que fazem parte do dia a dia, relacionadas a interesses individuais são deixadas de lado. Compras de supermercado, jogo de futebol, festas, trabalho e, até mesmo, estudos na universidade.
A maioria das instituições de ensino superior possui aulas às sextas feiras de noite e também atividades aos sábados. Sem falar nas diversas provas de vestibular que também são realizadas no sétimo dia da semana. Aquele que escolhe não estar presente em tais datas para cumprir os preceitos da religião, geralmente, tem que enfrentar um batalhão de questionamentos e negociações.
“Na faculdade houve vários trabalhos que deveriam ser feitos aos sábados, mas consegui negociar tudo com meus amigos, que me entendiam”, diz Natália Maeda, 23 anos, formada em audiovisual. “Nas aulas de sexta, conversava com os professores, e conseguia sair mais cedo sem ser prejudicada com faltas” continua.

No estado de São Paulo, as provas que caem aos sábados impõem os guardadores do dia, basicamente adventistas, judeus, e outros pequenos grupos em um regime quase recluso. No Enem, por exemplo, eles têm que ficar na sala em que farão a prova a partir do momento em que os portões são fechados. E devem permanecer na sala até o momento do pôr do sol, no qual, enfim recebem e fazem a prova.
O estudante de engenharia de manufatura, Lucas Chung, de 19 anos, já passou por essa situação diversas vezes, e disse que apesar do aparente respeito das autoridades, a fé sempre é provada. Ele conta que certa vez, as provas foram distribuídas às 18h, mas ainda não era de noite. O sábado é guardado de pôr do sol a pôr do sol, e não baseado em horários fixos. Mas o relógio batia, e o tempo para fazer a prova estava ficando cada vez mais curto. Mesmo assim, nenhum adventista da sala chegou a sequer ler as perguntas antes que o sábado terminasse. “Foi um momento emocionante para mim porque pude ver muitas pessoas, que assim como eu, se preocupam em cumprir as orientações de Deus para nossa vida”, declara o rapaz.

Baseados na leiO advogado Nemias Martins garante que, por lei, todos podem exercer suas crenças
Mas nem todos os casos são simples e fáceis de serem negociados e resolvidos. É o que aconteceu com Quielze Miranda, 19 anos, que para ter o direito de cultivar seus princípios religiosos, foi obrigada a entrar na justiça. Estudante de Relações Internacionais em uma instituição católica, no interior do estado de São Paulo, ela seguiu o procedimento básico ao se deparar com o conflito do sábado. “Levei uma declaração do pastor da minha igreja, que geralmente é utilizada pelos adventistas, e aceita em todas as instituições de ensino; mas não adiantou”, afirma. Ela ainda tentou de diversas maneiras repor as aulas que perderia, com trabalhos, horários alternativos, mas não houve acordo com a administração da universidade. Sem a matéria, Quielze reprovaria, e apesar do contexto adverso, a única certeza que tinha era ser leal aos princípios de Deus. Foi orientada a procurar a justiça, e assim ela fez.
De acordo com o inciso oitavo do artigo quinto da Constituição Federal Brasileira de 1988, “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”.
“Com certeza, com base na constituição federal e nas leis vigentes no Brasil, todas as pessoas obterão êxito junto ao judiciário por meio de uma liminar ou de uma cautelar para que os seus direitos sejam guardados como cristão”, afirma Neemias Martins, advogado da Associação Paulistana, que já defendeu vários casos parecidos.
Quielze conseguiu uma liminar que a deu o direito de fazer o que tinha sugerido à faculdade. Com trabalhos extraclasse ela repõe as aulas e provas que havia perdido. Contudo, Martins esclarece que o primeiro passo do aluno nunca deve ser a busca por medidas judiciais. A atitude pode criar atritos desnecessários no relacionamento com a administração. “Primeiro o aluno deve ter conhecimento de sua fé e saber o que está alegando; depois tem que negociar com professores e amigos; após isso, buscar uma prestação alternativa e, se não der certo, enfim, recorrer ao judiciário”, explica.

Testemunho induzido
O caso de Quielze repercutiu bastante e alcançou espaço nos principais veículos de comunicação do Brasil. Para a família da jovem, essa situação toda, a princípio vista como um problema, provou ser uma oportunidade de falar sobre os princípios de Deus para muitas pessoas. “Elá está recebendo milhares de contatos por telefone, por internet. Ela agora tem muito trabalho missionário para fazer e está muito feliz com isso”, conta Ezequiel Miranda, pai e pastor adventista.
Quielze também ficou muito feliz em poder sentir na própria pele que ser leal a Deus sempre traz consequências positivas. Ela aprendeu a confiar nEle acima de todas as coisas e ser fiel. Isso traz recompensas gratificantes. “Deus quer usar todas as pessoas. Isso é maravilhoso e nunca devemos perder a chance de falar de seu amor”, conclui.

Fonte: http://www.paulistana.org.br/

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